Consenso ou não?
Em 1947, um grupo de economistas reuniu-se na Suíça e elaborou um projeto econômico contra o estado do bem-estar social de estilo keynesiano e contra a social democracia. Tal projeto sugeria que a função reguladora do estado e seus encargos sociais destruíam a liberdade dos cidadãos e a competição do mercado.
Em 1970, quando o capitalismo conheceu uma crise marcada por baixas taxas de crescimento e altas taxas de inflação, aquele grupo de economistas voltou à carga com seu modelo e passou a ser ouvido. Diziam os componentes do grupo que a crise decorria do poder dos sindicatos, protegidos pela política social do estado que, por seu turno, teria acumulado déficit fiscal devido ao aumento de encargos sociais. Com os altos salários e os impostos, teria havido uma destruição dos níveis de lucro necessários para o crescimento. O grupo, então, propôs:
- Um estado forte para quebrar o poder dos sindicatos, controlarem as contas públicas, cortar os encargos sociais (saúde, educação, previdência, infraestrutura) e os investimentos públicos;
- b. Um estado cujas metas deveriam ser a estabilidade monetária e o aumento da taxa de desemprego para forçar a queda dos salários e a contenção da inflação de demanda;
- c. Um estado que realizasse uma reforma fiscal que incentivasse os investimentos privados, reduzisse os impostos sobre o capital e aumentasse os impostos sobre a renda, o consumo, o trabalho e o comércio, ou seja, que aumentasse os lucros e reduzisse a demanda;
- Um estado que se afastasse da coordenação e da regulação da economia, deixando ao mercado a tarefa de estabelecer o novo equilíbrio;
- Um estado que se retirasse de toda e qualquer atividade econômica direta (privatização);
- f. Tal modelo, que acabou por servir de base para o consenso de Washington e orientou as políticas do banco mundial e do FMI, tornou-se o responsável pelas mudanças macroeconômicas ocorridas na forma de acumulação. O modelo previa a queda da inflação e o aumento das taxas de crescimento da economia.
A inflação, de fato, caiu, com as restrições do consumo, mas o crescimento ficou muito aquém do esperado, chegando às vezes a haver queda nas taxas de desempenho da economia, pois, verificou-se que o modelo incentivava a especulação financeira. Em consequência, o modelo provocou:
a. Desemprego estrutural;
b. Transformação do capital financeiro no coração do capitalismo;
c. Aumento da terceirização;
d. Transformação conceitual da ciência e da tecnologia em forças produtivas;
e. Privatizações crescentes não só de empresas, mas também de serviços públicos;
f. Transnacionalização da economia e aumento da vulnerabilidade com relação aos investimentos estrangeiros (tradeable e non tradeable);
g. Aumento dos bolsões de miséria e de exclusão não só entre países (primeiro, terceiro e quarto mundos), mas no interior dos países;
Paralelamente a estas transformações políticas, ocorreu uma transformação tecnológica importante com o avanço da microeletrônica e das tecnologias de informação. No plano da vida e das relações humanas, houve uma transformação sensível e profunda nas relações pessoais e familiares em decorrência do aumento da competitividade, a qual passou a ser um valor individual e não só empresarial. Por isso a questão: é consenso ou não?
e – Robson Paniago é Administrador Tecnológico & Social