O Retrocesso Antropológico
O homem, primor da evolução das espécies, único semelhante ao Criador, desde muito tempo empenhou- se na mais perfeita atividade de que apenas nós somos capazes: o raciocínio científico.
Esta atividade fantástica de desvendar os segredos da natureza, compreender seu funcionamento e assim poder entender melhor o mundo em que vive e dessa forma compreender melhor a si mesmo.
O homem sempre desejou possuir os segredos da existência em suas mãos: conhecer as respostas das perguntas que afligem seu angustiado cérebro pensante e assim poder integrar-se ao cosmo, sentir-se parte do todo, aproximar-se da Divindade.
Para estas finalidades o homem desenvolveu métodos diversos, desde anos longínquos, de acordo com suas capacidades, e assim galgou ao longo dos séculos o abismo que separa a ignorância e o saber.
Dessa forma o ser humano provou ser uma criatura formidável, criado com uma capacidade inata de observação e criatividade com a função que, aliás, é a função de todo ser vivo: promover a vida.
Conforme afirmou Freud, “a inteligência é o único meio que possuímos para dominar nossos instintos”. Ora, pode-se concluir que a essência da nossa existência reside na capacidade que cada indivíduo possui de refrear seus instintos primitivos a favor da coletividade. Esse princípio norteou a formação das primeiras aglomerações humanas, formou os primeiros clãs, orientou os conceitos que regem a sociedade até hoje.
Conforme concebeu Kant em seu “imperativo categórico”, os seres humanos devem agir como se fossem legisladores universais, como se suas atitudes pudessem afetar o mundo todo, devendo, portanto medir a moralidade de seus atos afim de não agredir nenhum princípio ético.
Porém este ser fascinante – o homem – apesar de ter diante de si dúvidas infindáveis, cada vez mais volta as costas para a contemplação do universo que o cerca para olhar o que ele considera um horizonte mais vasto e interessante que o espaço cósmico: seu umbigo.
Esse ser – outrora empreendedor, voraz na sede do saber, desejoso de sentir-se útil, portador de uma fé tímida mas rígida de que de alguma forma havia sobre o céu algo maior que ele, o qual temer era um privilégio e fazia-o sentir-se melhor: sentia-se amparado na vastidão do universo – não existe mais.
A sede do novo homem: o prazer barato.
A religião do novo homem: suas próprias vontades.
O universo para o novo homem: o que ele pode possuir.
A Ética para o novo homem: fazer o bem apenas aos seus.
Relativização moral, eis o grande retrocesso antropológico, a fonte de todo o mal que há porvir: apequenaram-se os nossos ideais, com isso apequenamo-nos nós: tornamo-nos menores que o menor inseto, pois eles podem não compreender a vastidão do universo, mas sabem o valor de seus semelhantes.
Por: Rafael Marçola