A comunicação no discurso do Júri
Ao longo dos meus dezessete anos de experiência na docência do ensino superior, tenho procurado mostrar aos meus alunos a importância da comunicação, não só para a carreira que escolheram, mas para a vida. Já dizia Chacrinha que: “Quem não se comunica, se trumbica”. Esse ditado faz sentido, pois vivemos em sociedade e para isso precisamos nos comunicar, de preferência com clareza e eficácia para que possamos nos entender, especialmente, quando tentamos convencer alguém acerca de algo, quando queremos que o outro mude de ideia e passe a acreditar que aquilo que falamos é o melhor caminho. E como fazemos isso! O tempo todo, estamos munidos de estratégias argumentativas, as quais não nos damos conta, nem percebemos que estamos usando, mas estamos, e com muita determinação.
Recentemente, tive a rica oportunidade de produzir um simulado de júri com meus alunos de primeiro ano do curso de Direito e todos puderam perceber que não há nada melhor do que sairmos da teoria e vivenciarmos a prática.
Num júri, as estratégias argumentativas acontecem de diversas formas, mas antes de mencioná-las, quero fazer aqui uma breve distinção entre persuadir e convencer, muitas vezes, tomados por sinônimos. Grosso modo, o ato de convencer envolve a razão e o de persuadir, a emoção, ou seja, um advogado ora argumenta por meio da razão, ora por meio da emoção. É como um jogo, às vezes, trabalhar só com a emoção pode ser uma péssima jogada, e vice-versa.
Sobre as estratégias argumentativas, estas não ocorrem só por meio das palavras. Em alguns momentos, um sorriso irônico é estratégico. Isso demonstra que há um conjunto de elementos que, juntos, e utilizados adequadamente, podem levar o outro à aceitação das idéias expostas.
O discurso no júri nos faz refletir sobre a importância da comunicação do corpo, pois este fala quando estamos nos comunicando. Desde a posição das mãos até um levantar das sobrancelhas. Cada gesto possui um significado próprio, transmite em si uma idéia. Um advogado ou um promotor não podem ficar estáticos diante dos jurados, é importante que suas palavras se apóiem em seus gestos.
Os recursos prosódicos são fundamentais. Pensemos num orador que fala sempre num único tom de voz, baixo ou alto, isso cansa os ouvidos de qualquer um, transforma-se, muitas vezes, num ruído na comunicação. Ou então um orador que tem uma voz grave ou aguda demais, certamente, seu discurso não será atrativo. A voz determina a própria personalidade de quem fala. Reinaldo Polito, especialista em expressão verbal, diz que, “qualquer problema de ordem física ou emocional será imediatamente revelado através da voz”. Diz ainda que, “a voz é o veículo de importância fundamental no transporte da mensagem, precisa ser bem cuidada para não prejudicar a comunicação.”
O olhar também é importante, pois “os olhos são o espelho da alma”. Por meio do olhar, podemos manifestar o que sentimos ou pensamos, podemos captar as mensagens que nos estão sendo passadas, se são falsas ou verdadeiras, se há insegurança ou distorção. Um réu ou uma testemunha, por exemplo, pode enganar por meio de palavras, mas dificilmente conseguirá enganar alguém pelo olhar, pois há quem diga que “os olhos não mentem”.
A descrição também é muito comum num júri, pois é um recurso muito significativo para que o outro aceite, incorpore o que está sendo falado. Por meio dela, as dúvidas podem ser desfeitas, pode-se argumentar com mais sucesso. Por exemplo, a cena de um crime, sendo descrita, pode construir uma imagem mais nítida do fato.
Com relação aos argumentos, o argumento de autoridade é um dos mais usados no discurso do júri. Sobre ele, Victor Rodríguez, diz o seguinte:”O argumento de autoridade é aquele que usa da lição de pessoa conhecida e reconhecida em determinada área do saber para corroborar a afirmação do autor sobre certa matéria.” Trata-se de uma estratégia racional, pois o argumento apresentado toma grandes proporções quando o argumentador se apóia num autor consagrado ou numa doutrina, por exemplo.
Há outras estratégias argumentativas que tenho observado no discurso do júri, ao longo de meus estudos nessa área jurídica, entretanto, não quero cansá-lo, caro leitor, com minhas pesquisas científicas, pois não é este o meu objetivo. O que pretendo com este texto é mostrar a importância da argumentação no discurso forense, argumentação esta que não se dá apenas por meio das palavras, pois além dos recursos linguísticos há outros que são importantes dentro desse processo discursivo, como vimos, que são: os aspectos prosódicos, as expressões corporais e faciais, a naturalidade, o conhecimento (não se deve falar algo sem que se conheça), a gesticulação adequada, entre outros.
Pretendo também aguçar o desejo e a curiosidade dos que nunca tiveram a oportunidade de assistir a uma sessão de júri, especialmente, aos alunos dos cursos de Direito, que perceberão o quanto é importante saber e praticar a arte de falar bem.
*Hélide Maria dos Santos Campos é mestra em Comunicação Social e doutoranda em Linguística pela USP. É autora do livro Catedral Eletrônica e professora universitária na Fadi- Sorocaba, na Faditu – em Itu e em diversos cursos de pós graduação.