O crime institucionalizado
“- Esse Brasil não presta !”, brada o dito cidadão de bem em qualquer conversa onde o objeto da discussão é a situação do nosso país, seja na questão político-econômica, seja do ponto de vista da moralidade nos meios de comunicação ou nas instituições do governo… enfim, falando de brasil, o consenso quase sempre é a depreciação.
É claro que se observarmos um pouco, esse cidadão hipotético tem muito o que criticar sem perder a razão: vivemos momentos de severa corrupção nos diversos setores do governo onde abundam denúncias de desvios de dinheiro público, enriquecimento ilícito e outras tantas devassidões de que os homens públicos são capazes.
Então o supracitado cidadão, em certa altura dessa conversa de botequim concluirá que todos os problemas da nação provém do governo e portanto deverão ser solucionados nas estâncias governamentais.
Esse cidadão inventado por mim pode ser a maioria – senão todos – de nós, enquanto observamos de camarote o jornal nacional e proferimos cheios de empáfia pragas e vitupérios contra o país, como se fosse um mundo distante e inalcançável onde nada nos diz respeito.
Nos esquecemos que todos os males desta terra provém de uma instituição poderosa que age em todos os ramais da sociedade e possui um numeroso efetivo de pessoas treinadas desde criança para perpetuar a vilania e a corrupção: a instituição do crime.
Pasmem senhores: esta é a única instituição que funciona por aqui, faz parte de nossa cultura, é chamado “jeitinho brasileiro” ou “lei de gérson” onde o único mandamento é “se dar bem”.
Para isso nós utilizamos os mais diversos meios, como livrar – se do bafômetro porque tem amigo guarda, ou fraudar o imposto de renda para faturar algum, ou fazer mal uso do cartão corporativo da empresa, ou levar da empresa artigos do almoxarifado para uso particular, ou fazer um retorno proibido na rua para economizar tempo, ou comprar aquela furadeira por quinze reais que o nóia veio te oferecer na porta de casa…são inúmeras formas de fazer proliferar o crime, em seus diversos graus, que cada um de nós eventualmente acaba permitindo em certas circunstâncias.
Em muitos casos essas intervenções “criminosas” do cidadão comum é puramente isolada e visa as vezes facilitar um processo qualquer ou burlar uma burocracia burra, mas na maioria dos casos essa conduta detestável é o produto de uma cultura, ou melhor, de uma anti-cultura
semeada desde nosso descobrimento até os dias atuais para formar dos nossos conterrâneos um povo egoísta e sem valor. Um povo vira – latas que não reconhece no próximo o rosto de um irmão.
Esse comportamento demonstra que nossa maior fragilidade não reside no governo como um todo, mas antes na casa de cada cidadão que, promovendo – se sem critérios morais, gera uma espiral infinita de corrupção e desordem.
Somos as células do nosso próprio câncer.
Por: Rafael Marçola