Um saldo de esperança: Balanço da visita do Papa ao brasil.
A Jornada Mundial da Juventude já é uma proeza pelos seus números impressionantes: mais de 3,7 milhões de pessoas participaram dos eventos, foram distribuídas mais de 4 milhões de hóstias nos seis dias, vieram fiéis de 175 países e os visitantes gastaram quase 2 bilhões de reais na cidade.
Diversos recordes foram quebrados: foi o maior agrupamento de pessoas por um evento no país, com a maior diversidade de povos, a maior movimentação de transportes que a cidade do Rio já suportou, a maior arrecadação com turismo da história, etc…
Mas o que mais salta aos olhos não são os números portentosos ou os recordes turísticos, ou mesmo, como gostam de ressaltar os pessimistas, as dificuldades logísticas enfrentadas pela cidade ao sediar tamanho evento – diga-se de passagem, foram muitos – como o terrível déficit em transportes: em dado momento a turba de peregrinos e turistas simplesmente parou, pararam o metrô e os ônibus não eram capazes de suprir a demanda por deslocamento.
Os visitantes também sofreram com dificuldade de acessar serviços essenciais, como banheiro e alimentação, além de outras
tantas dificuldades oriundas da eterna incapacidade de qualquer governo no Brasil de gerenciar qualquer coisa com competência.
Mas nem esses fatos tiraram o brilho reluzente do que mais chamou a atenção no grande evento: a comunhão dos peregrinos.
Poucas ocorrências policiais foram registradas, a maioria de bandidos que se aproveitaram da movimentação elevada para cometer seus delitos, mas pouca arruaça, pouca desordem, imperou quase soberana a paciência e o amor cristão. Quando o acesso a serviços eram quase impossíveis, mesmo aí o peregrino se resignava a esperar a fila, a dormir na rua, a pagar 10 reais por uma lata de coca-cola, não porque seu senso crítico tivesse desaparecido, mas porque sabia que não era conveniente protestar, não naquela hora, não alí.
As multidões de visitantes, turistas e peregrinos, em maioria jovens animados mas ordeiros, seguiram os roteiros preparados para o evento e acolheram as dificuldades de estrutura como o frade franciscano acolhe o pouso na casa do humilde: o que se lhe for oferecido é o tanto que lhe basta. Imbuídos no espírito de fraternidade, proclamando valores aparentemente ultrapassados, daqueles que só percebemos nos homens de cabelo branco, demonstrando uma felicidade estranha: que não precisa de carro rebaixado, penteado e roupa da moda, prostituição do corpo e da alma para sentir-se valorizado, mas que valoriza sobretudo o contato humano, a solidariedade, o amor fraterno, o idealismo político, o engajamento social como meios de realização pessoal sustentável e promotora do crescimento moral do indivíduo.
Apesar dos prodígios turísticos, o número de valor inestimável na JMJ foi, com certeza, o saldo positivo na esperança que temos no jovem moderno: talvez ele não queira ser um “autista” enfurnado num computador vivendo uma vida de mentira, revestido de um avatar auto-criado para disfarçar sua personalidade real, mas ainda sinta uma necessidade estranha de encontrar o próximo… e assim encontrará à Deus.
Por: Rafael Marçola